sábado, 15 de janeiro de 2011

Cartas de uma noite [4]

Mais uma vez me sinto inundada pelo instinto, pela minha luz matinal, que se tornou escrever.

Acabo de ler um romance que me fez demonstrar fisicamente o quando me atingiu enquanto lia suas últimas cem páginas. Acho que isso me afetou mais profundamente do que aos outros porque fui capaz de me identificar com ambos os personagens principais e a história não termina de um jeito muito feliz.

Ele, um apaixonado pela vida e pelas coisas simples e belas que ela oferece, movido pelo sentimento e um amante das palavras e poemas e tudo que elas transmitem, ama uma mulher durante toda a sua vida, mesmo que tenham havido altos e baixos.

Ela, uma artista nata: livre, decidida e apaixonada, que tenta balancear dois lados de sua vida e tenta fazer com que tudo seja mais fácil, mesmo que seja tão complicado, ama um homem durante toda a sua vida, mesmo que tenham havido altos e baixos.

Os dois juntos ao que parece num final feliz se vêem a não ficarem assim tão felizes como na loucura que são os contos de fadas. Ela, devido a idade avançada e a infelizes doenças, não se lembra nem ao menos quem é, e ele obrigado a assistir isso todos os dias amando-a cada dia mais, apaixonando-se todos os dias, guarda as lembranças dela como a um tesouro, mas preserva os sentimentos da amada deixando-a sem saber quem é ou o que ele significa pra ela, contando sua história todos os dias sem dizer que é deles. Vivendo praticamente de lembranças até o último minuto. Sei o quanto deve doer.

Sei também o quanto é ruim se ver obrigado a perder aquelas pessoas que são tão importantes pra você, ver que os dias passam e saber que se afasta e conviver com a dor do pensamento de que talvez, com o tempo, seja só você a ainda saber do quanto são especiais e importantes, de como significam e como isso cresce dentro de mim. Meus alicerces outrora tão fortes desmoronam e eu me vejo perder pra mim mesma, ouvir os soluços e ter de me conformar com eles. Ler essas palavras e saber exatamente como é senti-las machuca tanto que não sei descrever. Acho que me tornei sensível demais.

A chuva cai e pela primeira vez nesse dia isso me agrada, torna mais fácil para mim ter que ouvir um som que não seja o virar das páginas ou os soluços que elas me provocam. Me dói ter que admitir isso, por mais que eu não goste sou uma pessoa orgulhosa e que tantas vezes já engoli lágrimas, suprimi soluços e os troquei por risadas. Mas mais uma vez me senti afetada, por que será que minha armadura já não se recompõe de vez?

Provavelmente estou enchendo o saco com minha reclamações e distúrbios que deviam ficar apenas pra mim, mas acho que isso tornaria a coisa pior pra ser enfrentada e não é isso que quero, pois descobri que sou fraca, que a fortaleza que eu pensei estar ao meu redor não foi construída por mim. Queria (e tentei demais) guardar isso, mas a necessidade foi mais forte.

Já me sinto mais calma, mas ainda vou ter que enfrentar mais algumas páginas que faltam pra que enfim eu saiba do final da história, que talvez signifique algo pra outro alguém que não seja eu, o próprio autor e os personagens.

Não consigo mais agüentar isso, faz tão pouco tempo que me vi deixar aquelas pessoinhas que me cativaram e que importam tanto pra mim e o aperto no meu coração já é tão grande. Mesmo que muitas vezes eu não procurasse falar com eles, não sei por qual motivo, era bom e extremamente gratificante saber que estavam ali, que iam me ouvir se necessário e, mesmo que não estivessem ali, eu sabia que estava esperando que eles chegassem, pra enfim dar ao menos dar uma boa noite e quem sabe num momento descontraído, mostrar em simples gestos ou palavras o quanto significam.

Já não vejo um pingo de coerência na minha gramática, mas estou escrevendo com o coração então não consigo dominar as palavras que surgem espontaneamente, de forma simples, bem como cada coisa da vida que perdemos tanto tempo sem apreciar.

Percebo o quanto uma frasesinha, de poucas palavras, sem muitos floreios pode significar e o quanto um silêncio pode causar arrependimento. Antes de sair eu tinha que ter dito o quanto significam pra mim, o quanto os amo, na verdade, eu deveria ter feito isso diariamente. Para alguns eu consegui deixar isso, mas queria ter marcado mais outras pessoas também, tem gente especial que nem anda sabendo o que se passa comigo e isso é difícil de apreender e corta muito. Amanhã, mesmo que não estejam, eu quero deixar isso pra que vejam que eu não vou esquecê-los, mesmo que as horas juntas tenham que se diminuir a breves momentos, alguns gestos e poucas palavras. Acredite ou não, mesmo das brigas eu sinto falta, pois depois delas sempre vinha uma boa conciliação. Sinto falta das risadas e de ouvir e falar sobre tudo. Sinto falta mesmo de me sentir irritada com algumas pequenas coisas. É como deixar uma vida minha pra trás, mesmo que não seja definitivo eu sinto isso como uma despedida, sei que não é, mas eu não queria que nada mudasse. Queria que os sentimentos fossem os mesmos, as brincadeiras e os assuntos. Tento imaginar o dia de amanhã: mudar totalmente minha rotina que tinha se tornado tão especial pra mim, o que me completava e fazia minha vida ficar mais leve, não sei se começo a rir ou a chorar, isso me soa tão babaca, mas me afeta tanto, tanto que nem eu sei como explicar. Você deve estar perdido aqui né?

Eu também estou, por isso não gosto de entitular o que escrevo, títulos me limitam e eu gosto de voar nos assuntos.

Mas amanhã, amanhã eu vou matar essa saudade que sei que voltará logo que eu me for, talvez dormir pra mim seja difícil ao pensar no acordar.

Ta bom, parei com a depressão.

Boa noite e beijos carinhosos para quem sabe que está aqui nessa carta.





P.S.: Acho que me enganei, a história tem sim um final feliz, amanhã (hoje já) descubro se são pra ambos os casos. Mais uma vez: boa noite.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Que pena... (Pablo Severo)

Faltava um mês para o natal, eu já sabia que isso poderia acontecer. Ela foi assim, como um presente antecipado que eu ganhei do bom velhinho.
Cuidei muito do meu presente, via-o brilhar perante meus carinhos. Sabia que ele tinha sido feito para mim, e estava no meu destino ser dono dele.
Mas, um dia precisei me ver ausente da sala de brinquedos, e então o tive que deixar. Coloquei-o envolta de tudo o que mais gostava, e o deixei a minha espera. Quando voltei senti que ele estava meio empoeirado. E me pus a limpa-lo. Tive que me ausentar mais uma vez, e desta vez seria para sempre, eu sabia que não aceitariam que eu o levasse junto, então me despedi do meu mais precioso presente.
Foi triste a despedida, mas no fundo tinha esperanças de revelo. Quando me fui pensei ter deixando ele bem guardado, e trancado em um quarto onde só eu possuía a chave.
Es que recebo a noticia de que não precisaria ir embora, e volto todo alegre para minha casa, entro nela com o coração cheio de alegrias. Quando chego à porta do quarto onde deixei meu precioso presente, a encontro aberta.
Vou direto ao criado mudo, o lugar onde deixo todo o que me é necessário. Com o coração palpitante abro a gaveta e vejo que não esta mais ali o motivo da minha alegria.
Reviro o quarto na esperança de achá-lo em outro lugar, mais es que escuto risadas, elas pertencem a outro homem, corro pra janela, e então vejo que com ele esta meu mais valioso presente.
Zangado, quebro tudo o que vejo. Culpo-me por ser desmazelado, como pude deixar algo tão valioso em um quarto. Por que não o escondi comigo? Não poderia deixá-lo.
Desço as escadas, chego bem perto da porta, na intenção de buscar o que é meu. Mas me deparo com a minha fraqueza, olho pelo vidro da porta, e vejo que meu presente brilha com os carinhos do seu novo dono, o que quer dizer que não eram meus o que fazia ele ser brilhante.
Ajoelho-me no chão feito criança, e choro. Penso: -Pena que não tenho mãe pra busca meu presente na casa do visinho.
-Pena!
Grito: -É uma pena!


Texto escrito por Pablo Severo (Daniel)

Um paradoxo irracional

A ira me inspira.
Descobri que meus fatores primos para a inspiração estão intimamente ligados ao que sinto.
Quando algo forte me atinge eu escrevo sobre isso. Ao mesmo tempo em que surge um texto altamente paradoxo e complexo eu descubro que esse sentimento foi atenuado ou aumentado, vamos colocar como moldado de forma que não haja muito ou pouco desse, o equilibra.
Quando triste eu desabafo minha tristeza nas palavras tão amigas e quase instantaneamente me sinto bem. Caso esteja feliz escrevo sobre a felicidade e naturalmente ela flui e totalmente me contagia.
Ultimamente tenho escrito sobre sentimentos. Tenho me sentido magoada e revoltada. Por mais que eu não entenda.
Provavelmente é normal e eu nem reparei. Ou talvez seja estranho, mas nem dei importância.
Paradoxo, como pode ver, mas enfim...